A expansão da área plantada e as implicações no desmatamento decorrente do plantio da soja na Amazônia legal (Maranhão) no período de 1995-2005
A soja expandiu-se com mais intensidade a partir da segunda metade da década de 1990 na região da Amazônia Legal, penetrando em áreas antes dedicadas a outras culturas e também tem adentrado em matas virgens, em regiões do cerrado, e também da Floresta Amazônica.O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.
RESUMO
A soja expandiu-se com mais intensidade a partir da segunda metade da década de 1990 na região da Amazônia Legal, penetrando em áreas antes dedicadas a outras culturas e também tem adentrado em matas virgens, em regiões do cerrado, e também da Floresta Amazônica e nesta ação de expansão do cultivo da soja na Amazônia Legal nos primeiros anos do século XXI, o desmatamento atinge as mais elevadas taxas desde a implantação do plano real em 1994, várias análises têm sido feitas para buscar um culpado do desmatamento na região da Amazônia Legal no período recente e a soja foi posta em pauta neste contexto de abertura comercial sendo vista não mais como propulsora de divisas, mas como uma grande preocupação quanto ao desmatamento principalmente no estado do Maranhão.
Palavras-chave : Amazônia, soja, desmatamento, Maranhão
1 Introdução
Neste artigo o objetivo central é avaliar a expansão da área plantada na região da Amazônia Legal em específico no estado do Maranhão fazendo uma relação entre esta variável e a questão do desmatamento evidenciando as conseqüências desta expansão na lógica da maior abertura comercial a partir da década de 1990 até meados do inicio do século XXI.
2 A expansão da área plantada da soja
O crescimento da produção tanto na Amazônia Legal, no Mato Grosso como no Maranhão se caracterizou por uma forte expansão da área plantada .Neste período de análise (1995 a 2005) o aumento na taxa média anual de crescimento da área plantada na Amazônia Legal e Mato Grosso fora de 10,5% e 9,6%, respectivamente, conforme se mostra nos gráficos abaixo.
Gráfico 1: Evolução da área plantada de soja na Amazônia Legal (1995 a 2005)
Fonte: IBGE(2009), adaptado por ARRAIS NETO
Gráfico 2: Evolução da área plantada da soja no Mato Grosso (1995 a 2005)
Fonte: IBGE(2009), adaptado por ARRAIS NETO.
Segundo Brandão; Marques; Rezende (2005), a origem da área plantada com soja, tanto na década de 90 quanto no triênio 2001/02-2003/04 na região da Amazônia Legal se deu pela conversão de pastagens “degradadas” e não de áreas virgens e que o aumento significativo de produção de soja deu-se em regiões em que já teriam sido “abertas” à soja. No Maranhão, ao contrário, segundo Mesquita (2009) a expansão se fez sobre áreas virgens do cerrado, na região de Gerais de Balsas e Baixo Parnaíba , degradando imensas áreas.
O crescimento na taxa média anual de crescimento da área plantada no Maranhão foi de 14,4%. A expansão da área plantada deu-se de forma diferente da descrita no Estado do Mato grosso e da Amazônia Legal, num contexto geral. No território Maranhense o aumento da área plantada ao contrario do descrito por Brandão; Marques e Rezende deu-se, sobretudo sobre a penetração em áreas “virgens”, o que pode explicar a taxa de crescimento ser maior no Maranhão em igual período. No Maranhão, segundo Gomes e Braga (2005) se utilizam da técnica de derrubada e queima para realizar a produção de soja.
Gráfico 3: evolução da área plantada de soja no Maranhão (1995 a 2005)
Fonte: IBGE (2009), adaptado por ARRAIS NETO.
3 A expansão da soja e do desmatamento na Amazônia Legal (Maranhão)
A soja foi expandindo na região da Amazônia Legal de forma abrupta, penetrando em áreas antes dedicadas a outras culturas e também tem adentrado em matas virgens, em regiões do cerrado, e também da Floresta Amazônica. Essa expansão se deve principalmente a abertura comercial iniciada em 1990, no qual o governo incentivava a liberação do setor agrícola no sentido de influenciar o setor a funcionar sobre os mecanismos de mercado. Com o passar do decênio de 1995 até 2005, a soja movimentou-se no sentido centro, norte e nordeste da região da Amazônia Legal e também mais próxima das rodovias, ou seja, em regiões para uma melhor escoação para exportar para o mercado externo, que no caso o maranhão é um exemplo em termos de escoação de produção.
Durante a década de 1990 a produção de soja continuou a expandir-se, consolidando-se nos cerrados da Amazônia Legal.O Estado de Mato Grosso concretiza-se como um dos maiores produtores de soja do país.No final desta década a soja começa a tomar o lugar da floresta e dos pastos abandonados da Amazônia, onde novos municípios passam a produzir o grão principalmente em Rondônia, Pará e Maranhão.
Nesta ação de expansão do cultivo da soja na Amazônia Legal nos primeiros anos do século XXI, o desmatamento atinge as mais elevadas taxas desde a implantação do plano real em 1994, ou seja, é evidente que o aumento da taxa de desmatamento nos últimos anos está associado à expansão da soja.
Mesmo assim, já há algum tempo há duvida a respeito da relação da produção da soja e a questão do desmatamento na região da Amazônia legal. No que se refere ao Maranhão segundo Mesquita (2006, p. 425) “a pecuária e a agricultura temporária, são as variáveis responsáveis maiores pelo desflorestamento de áreas no Maranhão” e o ritmo de crescimento da soja na segunda metade da década de 1990 segundo Mesquita (2006) chegou a 41,92% a.a.
O relatório do Greenpeace de 2006 revela que é a soja é o principal fator de desmatamento da soja na região da Amazônia Legal.
O estudo feito pelo Greenpeace, na área da Amazônia foi realizado evidenciando tal fato:
O estudo, que incluiu várias expedições ao arco do desmatamento – região que se estende do sul do Pará ao norte do Mato Grosso, incluindo áreas do Tocantins, Maranhão e Rondônia -, entrevistas com comunidades afetadas e análise de imagens de satélite, avançou para além do registro da devastação e dos impactos sócio-ambientais. Com o objetivo de cobrir todos os aspectos da cadeia da soja da Amazônia, foram colhidos dados sobre exportação, comercialização e processamento da soja, incluindo o monitoramento de navios para o mercado internacional e o destino final do produto, os alimentos consumidos pela população européia. (GLASS, 2006).
Segundo o relatório a soja teve um boom a partir de 2003, por causa do mal da vaca louca na Europa, na qual avançou sobre a floresta Amazônica depois de já ter destruído praticamente todo o cerrado do centro oeste brasileiro.
O estado de Mato Grosso, campeão em produção de soja, depois de destruir todo a sua região de cerrado pôs abaixo grande parte de sua floresta Amazônica, o que o tornou como o estado campeão em desmatamento em 2003.
Através dos dados disponibilizados pelo IBGE, através do Sistema IBGE de recuperação automática (SIDRA), pode-se constatar que realmente o Mato Grosso é o estado que lidera quanto à área destinada para o cultivo da soja. De área plantada para a soja da área da Amazônia Legal 95% pertencia ao estado de Mato Grosso em 1995, sendo que em 10 anos essa área cresceu de 2.338.926 milhões de hectares para nada mais nada menos que 7.008.094 milhões de hectares (aumento de 199 %). O estado do Maranhão vem em seguida, como o segundo em termos de área plantada de soja.
Gráfico 4: Taxa de desmatamento anual na Amazônia legal
Fonte: INPE, Instituto nacional de pesquisa espacial.
Como se pode observar na figura acima, o ministério da ciência e tecnologia (MCT), por meio do instituto nacional de pesquisas espaciais (INPE), ofereceu a estimativa de desmatamento na Amazônia legal para o período 2005-2006, realizado pelo “projeto monitoramento do desmatamento na Amazônia legal” (PRODES), parte da ação 4176 “monitoramento ambiental da Amazônia brasileira por satélites”. Através do gráfico 4 é possível ter uma noção do desmatamento na região da Amazônia legal durante o período de 1990 a 2005. Em 1990, a taxa de desmatamento da Amazônia foi de aproximadamente 14000 km²/ ano, tendo um pico em 1995 com uma taxa de desmatamento anual de anual de quase 30000 km²/ ano, em 2000 essa taxa baixou um pouco para aproximadamente 17000 km² chegando em 2005 a subir a quase 19000 km² naquele ano.
Tendo como referencia o ano de 1995 por conta de ter sido o “ano do desmatamento” como se pode observar no gráfico acima, as maiores taxas de desmatamento após esse ano foram nos anos de 2003 e 2004, ou seja, neste período a Europa ainda passava por um período de turbulência quanto ao mal da vaca louca.
Gráfico 5: Desmatamento nos estados da Amazônia legal em km²/ano em (90-95- 00-05)
Fonte: PRODES (2009), adaptado por ARRAIS NETO.
Através do gráfico 5, podemos observar a taxa de desmatamento anual (km²/ano) em quatro períodos (1990-1995-2000-2005) dos estados pertencentes à Amazônia Legal. Em 1990, o estado com maior número de área desmatada foi o estado do Pará com 4890 km² ao ano. Em 1995 o Mato grosso foi apontado como o maior em desmate com 10391 km² de área desmatada. Em 2000 e 2005 o estado do Mato grosso continuou como o estado que mais apresentou áreas desmatadas.
Várias análises têm sido feitas para buscar um culpado do desmatamento na região da Amazônia Legal, mas é fato que o desmatamento está diretamente ligado ao modelo de desenvolvimento/crescimento econômico que se instala na região.
“O grau de desmatamento apresenta um aumento intenso em meados da década de 1980, depois declina levemente no início da década de 1990, voltando a crescer fortemente com o ciclo do commodities na década dos 2000. E em geral na Amazônia Legal quem desmata mais é a pecuária, mas no Maranhão, em específico no que se refere ao desmatamento a soja é que tem desmatado mais” (MESQUITA,2008, p 14)
A pecuária tem importância e pode explicar o desmatamento de microrregiões inteiras da Amazônia, localizadas no MT, PA, RO e MA, mas nestes mesmos estados, precisa ser levado em conta também a expansão da soja. A soja já detém essa dinâmica do desmatamento em vez da pecuária. (Mesquita, 2009)
Observando a expansão da área com soja é possível perceber o tamanho do desmatamento a que está submetido o bioma cerrado no sul e Leste do Estado do Maranhão. Segundo Mesquita (2006) a área de soja em 1995 foi de 87.690 há e em 2005 saltou para 348.152 há e nestes dez anos a área desmatada cresceu 297% ou 15% ao ano.
A soja é um produto voltado ao mercado externo, de commodities, cujo preço no período de 1995 a 2005 foi na maioria das vezes alto o que favoreceu aos sojicultores a ter captação de recursos financeiros estatais.O impacto ambiental proveniente da soja compromete o bioma cerrado do Maranhão, a destruição da fauna e da flora. Fora os impactos decorrentes do uso de agrotóxicos cujo efeito sobre o meio ambiente se faz de forma permanente.É possível aumentar a produtividade sem ter que aumentar a área, mas a terra no Maranhão como foi bastante barata foi então mais lucrativo comprar novas áreas e expandir, do que investir na propriedade, que já coliga os problemas causados por essa expansão, o desmatamento e a substituição de lavouras.
4 Conclusão
A expansão recente da área plantada de soja na região da Amazônia Legal a taxas elevadíssimas trouxe consigo sem duvida benefícios econômicos para os sojicultores, mas em contrapartida trouxe também uma grande degradação ambiental, sobretudo no que se refere ao desmatamento do cerrado no Estado do Maranhão. O que implica que os moldes do crescimento econômico têm exaurido o meio ambiente para um beneficiamento para poucos e prejuízos para muitos sobretudo paras as gerações futuras.
REFERÊNCIAS
Brandão, Antonio Salazar Pessoa; Rezende, Gervásio Castro de; Marques, Roberta Wanderley da Costa. Crescimento Agrícola no Brasil no período 1999-2004: explosão da soja e da pecuária bovina e seu impacto sobre o meio ambiente. Texto para discussão nº 1103. Julho de 2005.
DE PAULA, Ricardo Zimbrão Affonso; MESQUITA, Benjamin Alvino de.A Dinâmica Recente, Impacto Social E Perspectivas Da Economia Do Estado Do Maranhão – 1970/2008. Disponível em: www.bnb.gov.br/content/aplicacao/eventos/forumbnb2008/docs/a_dinamica_recente.pdf. Acesso em: 10 de agosto de 2009.
GLASS, Verena. Soja é Principal Vetor do Desmatamento, diz Pesquisa do Greenpeace. Publicado 10 Abr 2006. Disponível em: http://www.vegetarianismo.com.br/sitio/index.php?option=com_content&task=view&id=1613&Itemid=33. Acesso em: 10 de setembro de 2009.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Sistema IBGE de recuperação automática – SIDRA – Brasil: 1997-2008. Disponível no Site: http://www.ibge.gov.br (20 mar. 2009)
MESQUITA, Benjamin Alvino de.Desenvolvimento agrícola na Amazônia Legal: a dinâmica recente do agro-negócio e os impactos na agricultura familiar, no extrativismo do babaçu, no desmatamento e na segurança alimentar no Maranhão.Projeto de Pesquisa. São Luís: UFMA, 2008.
MESQUITA, Benjamin Alvino de. A transformação da pecuária maranhense sob a ação governamental e as forças de mercado: ritmos e rumos da ação do capital no período de 1970 a 2000. 2006. 459f. Tese (Doutorado) – Universidade Federal do Maranhão – Université Paris III-Sorbonne Nouvelle. São Luís.
MESQUITA, B. A. Demanda por alimentos e as conseqüências na Amazônia Brasileira: O sucesso do agro-negócio e tragédia no desmatamento. Encontro de Geografia da América Latina Montevidéu.2009.
SILVA. J. de R. S. Segurança alimentar, produção agrícola familiar e assentamentos de reforma agrária. 2006. 217f. Tese (doutorado) - Universidade Federal do Maranhão.
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[1] [1] Este artigo é um produto do Projeto de Pesquisa: Desenvolvimento Agrícola na Amazônia Legal: a dinâmica recente do agro-negócio e os impactos na agricultura familiar, no extrativismo do babaçu, no desmatamento e na segurança alimentar no Maranhão.
[2] Bacharelando (10º período) do curso de Ciências Econômicas da UFMA.
Publicado por: Crisóstomo de Andrade Arrais Neto
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